sábado, 25 de setembro de 2010

25 de Setembro de 2010

Meu querido sonho transatlântico: não posso deixar de assinalar o quanto me encanta esse seu irromper de todo um mundo que desconheço e que vindo de si é impura fascinação. Por outro lado eu tomá-lo-ia como arquétipo não fora este nosso desenfreado dia-a-dia. Mas neste plano terrestre o que mais há são impurezas adoráveis quando geradas por si. Efectivamente pelas suas mãos tudo se transmuta em encantos. Até os desencantos. Claro que esta sua natureza despoleta todo um mar de interrogações na minha pobre mente filha do espanto que como se sabe rapidamente se torna dependente de filosofias. Melhor dizendo de filosofices por quanto a verdade é que todo o meu pensamento se encontra subjugado à sua infinita sabedoria e é portanto de nenhum valor. Se eu quiser ser miudinha terei que reconhecer: em si cada pequena letrinha fora do lugar possui um inexplicável encanto. Fruto da sua criação tornam-se objectos de culto e de incondicional adoração a gralha o lapso a cifra o código o anagrama o epigrama e tantas outras coisas que ficam por indicar devido à minha limitada condição.

Tenho reparado: há um permanente vago sorriso ao canto dos meus lábios um fruto quase aflitivo da minha intensa afeição. Dá-me para considerá-lo preocupante na medida em que possa marcar-me rugas. E o elixir da eterna juventude está tão pela hora da morte - oh se está! Dir-lhe-ei mais meu querido sonho além-mar: há esta soberana propensão da minha alma divagante para cair nos seus braços sem que o próprio mar e suas vagas assustadoramente alterosas possam impedir este correr o risco de me afogar em si. Mentes titubeantes como a minha empreendem na ideia de que tempo e espaço são meras poeiras cósmicas nada que possa travar o percorrer de inauditas distâncias apesar de todos sabermos que as deslocações estão caríssimas ainda mais no meu caso que habito tão longe de tudo o que é o centro do mundo.

Meu querido sonho transatlântico: o meu universo (periférico) está fascinado pelo seu (concêntrico). No seu movimento voraz e vertiginoso é ele que audaciosamente reorganiza e depois desintegra esta minha matéria desejante. Claro que falamos da redução à ínfima espécie. Fico à beira do seu buraco negro ali nas regiões limítrofes. Cerca de dez minutos não mais. Dez minutos que imaginam o seu poderoso centro. Pode ser?

5 comentários:

Manuela Freitas disse...

OLá Ana Paula,
Esta postagem programada foi procurada por mim várias vezes e só agora surgiu. Admiro a sua escrita, mais uma vez. Hoje saio daqui cheia de pistas! Devo andar próxima deste enigma ou penso que estou próxima! Irremediavelmente espero o texto seguinte!...
Beijinhos,
Manuela

Miguel Gomes Coelho disse...

Pois é !
É nessa infinitamente pequena distância, sempre tão grande, que o sonho, desejando realizar-se, atinge o limiar do inteligível; mas se incompreendido, o sonho sonha-se de modo a construir, de novo, o navio que tentará efectuar a travessia que, no no fim do mar, a transportará à insegurança de um porto desejado seguro...mesmo que seja só por dez minutos...

Ana Paula,
está a tornar-se irresistível a espera por novo texto desta magnífica saga.
Um abraço grande.

pin gente disse...

dez minutos serão uma eternidade na rasante de um sonho.
bela ficção esta nos braços do mar.
um abraço
luísa

Isabel Victor disse...

Falante ...

(uma escrita falante)

Gostei muito, Ana Paula

beijo de boa noite

tiaselma.com disse...

É isso! A Ana vai deixando sempre um fio para que o sigamos...
Como eu gosto de passar por aqui. Ar puro...

Beijocas!

The Beggar Maid
Sir Edward Burne-Jones
Theseus in the Labyrinth
Sir Edward Burne-Jones

Obrigada!

Veio do aArtmus

Obrigada!

Veio do Contracenar

Obrigada!

Obrigada!

Dedicatórias

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